25.2.12

she's lost control

Pela primeira vez, conversávamos cara a cara:
- Você fala de uma maneira tão segura das coisas. Não esperava.
- Eu pareço insegura?
- Não, não sei... Na verdade, é que naquela primeira vez que eu te vi, o que eu pensei foi em melancolia. Você tinha muito um ar melancólico...
Pegou as minhas mãos como se nelas estivessem meu passado, presente e futuro. E parecia realmente desvendá-los enquanto as tinha. Queria saber de mim. Acariciou como se ali sempre o fizesse.

Protege-se tanto o ser do mundo, que ele mal o é. Protege-se tanto que qualquer dizer que te exponha, te faz frágil, te assusta.

Pela milésima vez repetia, à distância acomodada de um e-mail:
- Você cria realidades na sua cabeça. Você é insana. Está doente e maluca.
- Mas me fala o que disso tudo foi inventado por mim?
Nunca terei mais qualquer resposta. E senti alívio por não mais ouvir ou ler tudo o que um dia apagou meu último traço de sanidade.

Protege-se tanto o ser do mundo, que ele mal o é. Protege-se tanto que qualquer dizer que te exponha, te faz frágil, te assusta.

Pela primeira vez, falava o que eu lhe parecia, numa das dezenas ou centenas de bate-papos.
- Você é bem resolvida, ou pelo menos sempre foi assim comigo.
- Ah, com você acho que eu sou. Desejei acreditar nas palavras que são tão verdadeiras quanto mentirosas.Protege-se tanto o ser do mundo, que ele mal o é. Protege-se tanto que qualquer dizer que te exponha, te faz frágil, te assusta.

Pela décima vez, acolhia e aconselhava os prantos:
- Você é muito sincera. A gente não pode ser assim, tanto assim. Tem que mentir às vezes também.
- Mas não é pelos outros. É por mim.
- Sim, eu entendo, mas precisa se preservar um pouco, pras pessoas não terem essa capacidade de fazer essas coisas com a gente. As pessoas não tem que saber tudo o que você sente realmente.
Tomo o que me colocam à frente.
- Ela precisa é de uma cachaça. Põe aí uma dose pra ela.
Mas nem dez litros de qualquer coisa empurram um remédio que não se quer engolir. Afoga-se o que dá pra se afogar numa velha mesa amiga.

Protege-se tanto o ser do mundo, que ele mal o é. Protege-se tanto que qualquer dizer que te exponha, te faz frágil, te assusta.

Pela centésima vez, dava um parecer logo após conhecer:
- Não há o que tratar. É preciso diferenciar o que é uma tristeza do que é uma depressão...
Já havia falado muito. Senti novamente um alívio. Ao mesmo tempo, surpresa. Preferia que fosse uma doença? E que fosse mortal, enfim? Talvez... Algo menos torturante que uma tristeza. Mas ele, o especialista, entende que eu só quero dormir, só dormir, dormir e sonhar e sonhar e sonhar.

Um, dois, três - Rivotril - e já.

I could live a little better with the myths and the lies
When the darkness broke in, I just broke down and cried
I could live a little in a wider line 
When the change is gone, 
when the urge is gone to lose control 
when here we come

Um comentário:

  1. Anônimo29.2.12

    Tanta saudade de bater um papo com voce! :/

    Parabéns pelo blog!

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