20.5.10

mosaico amoroso*

das suas palavras mórbidas e doloridas são forjadas estas minhas. tuas palavras quase me guiam. tudo em ti me atrai, me leva ao inesquecível. seus olhos me encantam assustadoramente. eu me assusto, mas estou certa de que já estive ali em outra ocasião. talvez por isso tenha sido tão incômodo. dessa vez, no entanto, fui apenas pra te buscar. quis levar a ti a minha esperança e minha luz. quero ser o eco da sua voz. conta pra mim o que esconde essa escuridão do seu olhar. o que há por trás dessa ausência do amor. o que há de errado com seu braço e com a sua cabeça. a paz do seu abraço escondia o abismo que eu poderia enxergar a passos de distância de nós. e eu até fechava os olhos pra não ver, apenas sentir o quão doce era seu gosto. meu sorriso iluminava tanto que nem você mais via qualquer espacinho vazio no nosso caminho. eu achei que com um Giz na mão poderia escrever uma nova história, acabar com A Tempestade dos meus dias, mas talvez tenha sido mesmo só mais um Tempo Perdido. espero que Os Anjos venham me salvar e que não me roubem Vinte e Nove amores pela minha vida. [porque eu não suportaria me sentir de novo como Daniel na Cova dos Leões]. apenas letras e melodias me guiam. histórias de quem eu nem conheço revelam histórias minhas. me perdi em promessas. chorei a paz perdida quando meu corpo deixou seus braços. emoção esgotada em discreta (in)felicidade de sorrisos não sinceros. mas é sobre a fé que eu caminho. e de repente tudo voltou ao normal. como se nada nunca tivesse mudado de lugar, como se nem uma lágrima sequer tivesse sido derramada.

*o que deveria ser o primeiro texto desse "projeto de blog" rs... uma colagem de retalhos de textos. recortei e colei trechos (em alguns casos, só uma frase solta) de alguns textos guardados num arquivo chamado 'umontedeletras'. um monte de letras juntas, por mais que possam parecer desconexas numa cabeça bem confusa, passam a fazer sentido quando colocadas numa mesma página. daí surge a ideia do blog.

13.5.10

duendes mortos

nós nos despedimos, mas ele vem comigo. a noite tá muito fria, ruim pra dormir sozinho. me senti aliviada. tenho demorado pra dormir por causa da cama gelada. então entramos no carro, quentinho e confortável.
- que saudade, amor. que bom que veio!
- também queria muito vir. hoje o dia foi ruim, pesado, cansativo. e durante o dia essa gripe me derrubou...
- é a minha falta... rs
- sim. mas vamos curar isso hoje!
[ele morde a língua e brilha os olhos pra mim. eu brilho meu sorriso e devolvo a malícia com o olhar]
ele liga o rádio. aquece uma mão na outra e apoia uma delas na minha perna. eu dirijo.
enquanto eu sinto seu carinho, cai uma gota na maçã do meu rosto. ele continua a conversa como se não tivesse visto. talvez não tenha percebido, na escuridão.
o locutor anuncia "a rádio dos melhores ouvintes". nós rimos - da rádio e de nós. ele canta e aumenta o volume...

take me on a trip upon your magic swirlin' ship,

my senses have been stripped, my hands can't feel to grip,
my toes too numb to step, wait only for my boot heels
to be wanderin'
i'm ready to go anywhere, i'm ready for to fade
into my own parade, cast your dancing spell my way,
i promise to go under it

as luzes dos faróis se deformam em raios verticais, coloridos, ofuscantes.
- e mais uma gota salga a minha boca.
ele aumenta o volume, abre a janela e canta mais alto...

i'm not sleepy and there is no place i'm going tooooo


eu soluço e as luzes se misturam ainda mais. as gotas surgem em cada nota da gaita até que o sr. tocador vai embora e nós nos calamos.
ele olha pro horizonte sobre os carros como se pensasse como eu.

- eu só quero ir pro cú do mundo, me jogar de uma ponte.

não ouço mais sua voz. nem sinto mais suas mãos me aquecendo.

à porta de casa, desligo o carro pra ele abrir o portão pra mim. ninguém desce.

11.5.10

sem assunto

(...)
até que, numa noite, a gente virou cada um pra um lado e dormiu sem sequer um beijo de boa noite. virei pro lado dele, pra estar ali - esperando -, caso ele quisesse esquecer o que tínhamos falado. tudo [tão desimportante] que havia passado. passado. sem sono e sem calor. demorei, mas dormi. com frio. com o frio da enorme distância que cabia em poucos centímetros. acordei tentando lembrar de como chegamos ali. em como a sua voz mansinha despertando um amor para acordar foi substituída por um puxão no dedo do pé. não lembrei...

9.5.10

bela felicidade

vi o rapaz primeiro, quando ainda estavam do lado de fora. os traços do rosto bem definidos. marcantes. um sorriso que irradiava até nos meus olhos.

[mais beleza há na sua felicidade que nos seus dentes e boca - perfeitos]

a porta abriu e ele, cavalheiro, deixou que uma moça passasse na sua frente.
um corpo delicado num vestido psicodelicamente colorido, sapatinhos meigos, tanto quanto seus gestos. ela também sorria.
agora eu podia observá-los inteiramente.
ele usava uma calça verde - quase no mesmo tom do verde que coloria a roupa dela.
era alto, o cabelo loiro escuro. a pele tinha um tom claro, mas dourado pelo sol. e o corpo parecia não ter nenhuma imperfeição.

[fantasiei por um milésimo de segundo]

eu não parava de olhar, acho que percebiam. mas pareciam nem se incomodar. já devem estar acostumados. não que fossem de uma beleza absurda e incontestável. não eram. reparei novamente e, definitivamente, não eram lindos - no que se convém socialmente a chamar de 'lindo'. mas havia sim alguma coisa muito bela naquele casal. algo mais atraente do que aquilo que se podia ver ou ter concretamente.

["belezas são coisas acesas por dentro"]

eles brincavam. umas brincadeiras meio bobas, umas caretas infantis. riam. só-riam.
eles me atraíam. tentei me lembrar de quando vi pela última vez uma paixão-beleza-felicidade tão pura. era tão doce!

chegou a minha estação, que era a deles também. perdi os dois de vista.
voltei a mim.