26.4.11

coração apertado

hoje o tempo está bom para um abraço apertado, mas o meu não chega. a minha expectativa é a de uma criança com a esperança de receber um ovo de chocolate atrasado do coelhinho, em plena terça-feira pós domingo de páscoa. será que eu preciso procurar o sr. coelho? é isso que a minha mãe fazia quando eu era criança. aliás, caçar tesouros deve dar uma sensação muito gostosa, emocionante, aventureira!
mas nem lembro o que é isso. pareço longe de qualquer tesouro, se é que ele existe. - e não venha me dizer, minha segunda voz, que já existem tesouros ao meu lado. que papinho!
meu tesouro só se for o frio. frio que eu cavei dentro desse abismo onde ninguém entra, onde ninguém nunca quer entrar. ele é tão escuro assim? alguns já até experimentaram, caramba! apesar que muitos experimentaram e se foram. os que ficaram preferiram manter certa distância do fundo do abismo. acho que os compreendo. e eu, do fundo, mal os vejo, menos ainda consigo abraçá-los em dias como hoje.
queria ter superpoderes elásticos nos braços e no corpo todo pra poder passar de mim para você. chegar no seu peito e apoiar meu queixo no seu ombro direito. sou capaz de te compreender e decifrar seus segredos até, mas de longe. se eu mostrar minhas mãos, você pode se assustar com o tamanho das garras. se eu falar, você pode achar meu tom de voz tão agressivo que vai preferir levar uma bronca do chefe a conversar sobre qualquer assunto comigo. se eu te olhar nos olhos, sua impressão vai ser de que estou te encarando e procurando briga. se você decidir me dizer o que eu devo ou não fazer, então, vou te mandar pro inferno uma vez só e vai ser suficiente pra você não voltar nunca mais.
parece que os braços vão se atrofiando conforme você não os utiliza. é assim com a minha escrita. e pensar isso me lembra daquela sensação de quando você chorou muito, por uma tristeza tão forte, com lágrimas tão pesadas, e então alguém ou algo ou você mesma arranca uma risada sua, sincera. você até havia esquecido que podia sorrir e, de repente, sem perceber, escapou-lhe uma gargalhada desajeitada. eu não levo jeito pra rir... não tenho muito jeito com as pessoas também, nem comigo mesma. acho que não sei levar a vida.
não sei se foi sempre assim, mas sinto o agora como um momento de epifania.
o agora não é bom. parece que quanto mais se sabe, mais se descobre, mais se entristece, mais se deprime, mais se revolta, mais se nega!
a vida, sem percebê-la, deve ser mais leve e feliz.