30.9.11

reflorescimento - poema não acabado

traguei a primavera
quis seu olhar
do meu colo
me voltou alegria,
misturada com tristeza,
como uma saudade boa,
mas triste
você, perto e longe
ao mesmo tempo

aleatoriamente
quebradas em dezenas de linhas curtas
em voltas e vozes
caladas em ritmo arbitrário
combinações que se cortam
signos que me tragam
a vida desta tarde
sem destino, vago, sem espaço
ao peito,
flores, como velas
como vê-las
a descarregarem o corpo
os escombros de uma tristeza
libertos em espinhos e pétalas
somos a estação


quando você me ouvir cantar
venha, não creia, eu não corro perigo
digo, não digo, não ligo, deixo no ar
eu sigo apenas porque eu gosto de cantar
tudo vai mal, tudo
tudo é igual quando eu canto e sou mudo
mas eu não minto, não minto
estou longe e perto
sinto alegrias, tristezas e brinco
meu amor
tudo em volta está deserto, tudo certo
udo certo como dois e dois são cinco
quando você me ouvir chorar
tente, não cante, não conte comigo
falo, não calo, não falo, deixo sangrar
algumas lágrimas bastam pra consolar
tudo vai mal, tudo
tudo mudou, não me iludo e contudo
é a mesma porta sem trinco, o mesmo tetoe 
a mesma lua a furar nosso zinco
meu amor
tudo em volta está deserto, tudo certo
tudo certo como dois e dois são cinco

21.9.11

(es)vazio

hoje faltou alegria
fiquei muda
me mordeu qualquer bicho
algum troço esquisito
me deu paralisia

a solidão não foi companhia
- até ela se foi
levou meu ar e meus pulmões
esqueceu um tanto de lágrimas
- esquizofrênicas
e as veias sem vi(d)as

virei a alma do avesso
e, ainda assim, não me vi
gravei a minha voz
pra depois ouvir
não reconheci

a escrita fez rima
- infantil
fingiu ser minha
e se tornou
nada vezes poesia
que dá em nada

atrás da porta
meros rabiscos meus
significados seus
no entardecer
o grafite é invisível

como a saudade
como o que sinto
como o que não existe

nesta tarde, sem apetite.

12.9.11

traçados
















Desceu as escadas, me viu.
Sem perguntar, pedir,
entrou e bateu a porta.

[As mãos se apoiaram entre os azulejos.
O amor foi devorado.
Os olhos, no escuro, não diziam]

Ao chão!
                Ao cheiro!
                                   À surpresa!

Tocava-me, prendia
outra vez, o ar, o tempo,
parados, incontrolados,
meus lábios servidos de delírio.

O pulso e as pálpebras
                                      caindo.
As vozes e os segundos     
                                       em ritmo,
em mãos.

Levou nossos sentidos
ao quadrado
ao lado.

[O perfume dos seus carinhos,
lençóis,
dias vazios.]

A-calma
pr'alguma dor,
alguma falta,
alguma ansiedade
que houvesse.

O prazer silenciava meus tormentos.

Retorcido em gemidos, segurava minha cintura
como se fosse perdê-la.
Eu queria apenas estar e ser esta noite,
desenhada no papel, no caderno de capa vermelha.

Meu retrato: menina,
de olhar perdido
nos lados do quarto.

[Escritos
preto com branco,
sobre um tipo comum
de letra,
do que se diz,
do que se quer.]

Os nossos hálitos não sabem de si.

- Escrevi num canto borrado.

O nanquim fez curvas.
No seu traço,
a literatura de mim, espírito despido
à janela do alto do prédio,
a cidade ressentida abrigando nosso infinito,
os edifícios.

De tanto ser
                     - fomos
                                   escorremos
entre estrelas
                      e paredes
                                      paralelos
cruzavam-se
                      intensos
                                      encontros.