13.9.10

entre o sonho e a realidade

*Há diferentes tipos de divergência. Meu sonho pode transbordar o curso natural dos acontecimentos, ou desviar-se para um lado aonde o curso natural dos acontecimentos nunca poderá chegar. No primeiro caso, o sonho não causa mal algum; pode até sustentar e fortalecer a energia do trabahador [...].
Em sonhos dessa espécie, nada pode corromper ou paralisar a força de trabalho. Ao contrário. Se o homem estivesse completamente privado da capacidade de sonhar assim, se não pudesse de vez em quando se adiantar e contemplar em imaginação o quadro inteiramente acabado da obra que se esboça em suas mãos, eu decididamente não conseguiria entender o que faz o homem a iniciar e levar a termo vastos e penosos empreendimentos na arte, na ciência e na vida prática [...]. A divergência entre o sonho e a realidade nada tem de ruim, desde que o sonhador acredite seriamente em seu sonho sem deixar de atentar para a vida, comparando a observação desta com seus castelos no ar e trabalhando escrupulosamente na realização daquilo que imagina. Quando existe algum contato entre os sonhos e a vida, tudo vai bem.

*trecho do artigo "O erro da ideia pouco amadurecida", de D. I. Pissarev.