9.2.13

michèle et alex

- Faz quase dois anos... Sabia que era eu? Quer que eu vá embora? Queria vê-lo e também queria
que me visse... meus olhos. Não vai dizer nada? Você está bonito. É estranho ver você, está como em meus... Pensava que havia esquecido você... mas há semanas, quase todas as noites, vejo seu rosto. Por isso estou aqui, meus sonhos me enviaram. Deveríamos ligar para as pessoas com as quais sonhamos. A vida seria mais simples. Sonhei com você, o amor me acordou. Está me olhando, procurando saber quem fui. Não me reconhece mais. Mas eu o imaginava como você, cada detalhe... os cabelos também, mesmo que tenha mudado. Ainda tem os mesmos olhos brilhantes de meus sonhos. Nós dois corríamos... pelas cidades, vales e planícies, com botas de 7 léguas e você não mancava mais.
- Não manco mais.
- O quê?
- Não manco mais.
- Está vendo? O irremediável não existe. Ontem, fui à ponte. Terminaram o conserto. Agora está sólida.
- Por que tentou me esquecer?
- Nunca falei de mim... com aquela vida que tínhamos.
- Por que nunca veio me ver? Esperei por você.
- Tenho medo de nós dois, às vezes... muitas vezes.
- Você é covarde.
- Não. Pode me amar?
- Sim, como antes, mas não do mesmo jeito.
- Virei toda semana.
- Não volte mais.
- Sinto falta de você.
- Ainda tenho muito a consertar dentro de mim. Quero estar pronto para você. Quero que me veja como... Um outro homem. Na minha saída.
- Estarei aqui.
- Em seis meses... no Natal.
- Sim, eu sei.
- Encontra a meia-noite, na ponte.
- E lá farei seu retrato.
- Levaremos vinho.
- Um bom vinho.
- Sem veneno dentro.
- Dormiremos em um hotel. Tenho dinheiro. Eu trabalho.
- Vamos tomar café na cama. Você verá... vamos ter manteiga nas coxas, mel e geléia na barriga.
- Estou nos seus olhos, estou na sombra da sua boca.