19.6.16

vozes

um quarto apertado
uma janela pequena
uma rede pra eu não me jogar
a razão encaixotada
o meu corpo pra fora
corpo que não se encaixa
mas se eu quebro a janela
se eu rasgo a rede
o meu corpo terá caixa
do meu corpo cuidará a terra
a morte a cuidar do corpo
que a vida não cuidou.

2.6.16

chuva de inverno

chove 
quando eu me deito
chove 
na madrugada,
nos meus sonhos
perturbados,
o meu sono
tempestade.
e quando eu acordo
ainda é noite.
nos meus olhos
ainda chove.
será que o dia
não será sol?
de novo uma gota,
garoa cinzenta.
chove,
mas não aparece,
só umedece
e acumula
pesadas nuvens
a romper o silêncio,
relampejar
a escuridão de dentro.