24.12.13

na escuridão, te vejo

desejo apenas que o mar, 
essa deusa imensidão, 
te tome por inteiro e te leve 
ao fundo e devolva 
teu corpo à superfície.

para que, então, você respire,
beba água, veja o céu, 
tome chuva, tome sol, 
aproveite o natural, 
o maravilhoso de ver e de sentir.

reflita, chore, ouça si mesmo,
dê muitas gargalhadas, 
absorva o que for possível,
deite na areia e leia as estrelas.

alimente-se do mundo que te faz,
que tenha cor e movimento, 
que você possa tocar, que seja vida.

e que, num dia desses, você acorde 
com o canto de um passarinho 
ou o som de um violão, ao longe.
converse com as pessoas, 
abrace, beije, amoleça.

estamos em tudo isso...

mas precisamos nos aproximar
de nós mesmos, de nossos lugares
verdadeiros. e nos distanciar 
daquilo tudo que não somos.

eu vi tua doçura em generosidade,
carinho em atenção e compreensão,
eu vi uma existência admirável.
e esse João ainda está
em algum lugar, eu sei que está...

uma hora tudo escurece
o suficiente pra gente,
ainda distante, se ver
brilhando no universo.

22.12.13

o que me interessa

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.

Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto
e é como uma saudade

De um tempo que ainda não passou

Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.

Lenine

2.12.13

homem-satélite

luz, isca do paraíso, 
sirva este ser faminto 
que, febril, delira
pelos teus lábios. 

meu pequeno sol, 
raio-perspectiva-calor,
para onde vai
quando, em mim, anoitece?

sob as estrelas, abandonado,
ainda te prometo 
um caminho claro.
em meu peito, um uni-verso,
teu espírito brilha!

volte logo, pela manhã.
desejo o descanso 
- do berço 
dos teus braços.

e, assim, o amor 
- pratico 
nos teus olhos, arco-íris...
nas tuas grandiosas medidas... 

e te abro e dobro,
- redonda em minhas mãos
e teu perfume, combustível
do meu corpo, percorro.

apaixonado, ao céu recito
tua beleza, matéria-prima
de um doce poema.