13.5.10

duendes mortos

nós nos despedimos, mas ele vem comigo. a noite tá muito fria, ruim pra dormir sozinho. me senti aliviada. tenho demorado pra dormir por causa da cama gelada. então entramos no carro, quentinho e confortável.
- que saudade, amor. que bom que veio!
- também queria muito vir. hoje o dia foi ruim, pesado, cansativo. e durante o dia essa gripe me derrubou...
- é a minha falta... rs
- sim. mas vamos curar isso hoje!
[ele morde a língua e brilha os olhos pra mim. eu brilho meu sorriso e devolvo a malícia com o olhar]
ele liga o rádio. aquece uma mão na outra e apoia uma delas na minha perna. eu dirijo.
enquanto eu sinto seu carinho, cai uma gota na maçã do meu rosto. ele continua a conversa como se não tivesse visto. talvez não tenha percebido, na escuridão.
o locutor anuncia "a rádio dos melhores ouvintes". nós rimos - da rádio e de nós. ele canta e aumenta o volume...

take me on a trip upon your magic swirlin' ship,

my senses have been stripped, my hands can't feel to grip,
my toes too numb to step, wait only for my boot heels
to be wanderin'
i'm ready to go anywhere, i'm ready for to fade
into my own parade, cast your dancing spell my way,
i promise to go under it

as luzes dos faróis se deformam em raios verticais, coloridos, ofuscantes.
- e mais uma gota salga a minha boca.
ele aumenta o volume, abre a janela e canta mais alto...

i'm not sleepy and there is no place i'm going tooooo


eu soluço e as luzes se misturam ainda mais. as gotas surgem em cada nota da gaita até que o sr. tocador vai embora e nós nos calamos.
ele olha pro horizonte sobre os carros como se pensasse como eu.

- eu só quero ir pro cú do mundo, me jogar de uma ponte.

não ouço mais sua voz. nem sinto mais suas mãos me aquecendo.

à porta de casa, desligo o carro pra ele abrir o portão pra mim. ninguém desce.

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