9.2.12

quando aprender a andar pela segunda vez é levitar

os olhinhos doces onde eu fazia meu lugar seguro antes de cair em sonos profundos e incertos. que me observaram nua, exposta, da pior forma em que estive até hoje. olhos que enxergaram sofrimento e devolveram ternura, sem penalidade e sem pagamento.
as mãos de algodão em que eu entregava meu pé sangrando em dor. mãos que me traziam um pouco de paz todos os dias num aperto carinhoso e de alma presente. as mãos que em mim procuraram veias escondidas, deslizando-se feito um setim dos céus, sobre a fragilidade do meu braço tanto perfurado.
hoje essas mesmas mãos pegaram as minhas num vamoslá que tem sido minha única expectativa desde o vinte e oito de dezembro. eu olhava pra baixo vendo o que estava conseguindo fazer, vendo pra crer que conseguimos. subi o olhar aos dele. pela primeira vez os olhos nos olhos à mesma altura. e de todos os ângulos, este.
os mesmos olhinhos doces. as mesmas mãos de algodão.
só hoje pude perceber que não preciso erguer o pescoço pra encontrar a delicadeza por trás das lentes dele. e quis dizer tanto através daquelas lentes, mas, quando olhei, e ele sorriu, perdi o equilíbrio.
andar é verbo transitivo.

Um comentário:

  1. Anônimo9.2.12

    Desde o dia que soube de tudo isso, vc não saiu das minhas orações!

    Não conhecia seu blog seus textos são lindos!


    Um grande beijo no seu coração!

    ;)

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