11.2.12

a primeira vez que voei

- sabe aquela sensação quando você consegue voar?, eu falava sobre um vôo sem aviões, helicópteros ou qualquer aparelhagem que existisse no mundo dos homens. falava sobre simplesmente conseguir percorrer metros e metros de distância sem os pés no chão. e era algo normal, comum, apenas parte do que eu queria contar de verdade.
- sei, sei..., responderam alguns amigos ansiosos pela grande história.
- pois estávamos nós quatro ali na avenida da orla conversando sobre as coisas que ficavam depois que passávamos por elas. e, por pouquíssimos minutos, a paisagem esteve emoldurada, completamente preenchida por colunas infinitas de losangos. víamos as ondas quebrando através desses losangos, que surgiam e sumiam alternadamente. eram marrons, às vezes mais claros, noutras mais escuros. vazados. acho que colocaram uma transparência desenhada, uma enorme transparência nos primeiros pontos onde batem os raios do sol. combinava com o amarelo alaranjado do dia. ficou incrível, a paisagem redesenhada. era uma intervenção numa escala gigantesca. foi no fim de tarde. vocês não viram?
(...)

uma das coisas boas de ficar acordada até altas horas é dormir até altas também. pular a manhã, que é tão certa de nascer amarga quanto a solidão da noite em claro. não são nem dez e eu já vi que na minha vida nenhuma novidade chegou pra satisfazer o despertar. não pergunte que grande coisa deve se esperar das manhãs, mas por que se espera. os sonhos levam a tantas possibilidades! voltar à realidade tem sido acabar com elas todos os dias. destruir o que se acreditou, aos poucos, em conta-gotas de vintequatrohoras. mesmo nos pesadelos, o ruim, por mais intenso que seja, acaba e pode-se até criar um novo sonho, que seja bom enfim. escolher continuar sonhando é escolher a chance real de felicidade. tenho uma esperança um tanto desanimada pelo próximo dia, o que no inconsciente deve ter mais a ver com o próximo sonhar do que pelo próprio viver.

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