2.2.12

a fuga de um pesadelo

passo apressado, senhor do bonfim no tornozelo direito - fita e fé esgarçadas num fio vermelho. buscava alguma pista entre os desníveis, no vagar errante da sua pisada. de cabeça baixa, o cabelo escondia insegurança. havia se perdido, não se lembrava de quem, de onde. paralelepípedos pernambucanos, iluminação com charme parisiense, casas baixas e abertas à vivência de outrem - as relações cariocas misturadas à acolhida baiana e à estranheza estrangeira. em busca desnorteada, acabou dentro de um quarto. colchonetes no chão. janela aberta pra rua. um casal enquadrado na madeira envernizada martelou um flash na memória. ele se deliciava sobre o pescoço dela, ela ria feito uma vagabunda. traidores! traidores! um soluço despertava do sono antes que a fala conseguisse alcançar o ar. enjoo. mas ainda estava noite.

apartamento em estilo veraneio. uma família que a amnésia não permitia reconhecer. pegou o elevador. no hall, conhecidos desconhecidos tentavam conversa. bateu o portão em direção a algum refúgio. pessoas preenchiam as ruas de branco. caminhavam num sentido único. era um ano novo, mas não sabia quem deveria abraçar. o olho ardeu querendo chorar. era maceió ou era o paraíso. a morte explicaria tudo o que não estava fazendo sentido. podia andar por todo lugar e os lugares eram todos num único. não era vista por ninguém. havia liberdade e solidão. descarregou os pés na areia. aliviou o peso da nuca com leveza e frescor, o mar, a bênção. caminhava entre pedras quando cruzou com o olhar cor daquele mar. paz. presente de iemanjá. abraço forte. reencontro encontrado. um sorriso despertava o novo dia encerrando a noite-aflição.

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