2.10.09

pós-cidade

o cenário é de um amontoado de casas e prédios destruídos. 
ruínas por toda parte em meio ao mau gosto de viadutos, arranha-céus e mansões-muros.
os seres (mortos-)vivos combinam com as construções. 
são pessoas e animais jogados, vidas destruídas. 
pés sujos em contraste com saltos finíssimos. 
há trapos tão próximos ao brilho das vitrines que a riqueza parece até alcançável.
o luxo vivendo num grande lixo é o luxo produzindo lixo luxo-lixo em putrefação o luxo sujo e fétido é o lixo do mundo!
na cidade, é insuportável ter olhos. é preciso se anestesiar em distrações.
que venha a ridicularidade da tv com seus reality shows! encham meus ouvidos de produtos (anti)musicais! entupam minha mente de notícias parciais!
oh! mas não se esqueça, excelentíssima senhora burguesia,
de ocupar meu tempo com um trabalho digno e boas festas! de cobrir meus olhos com suas promessas tão belas! e iludir meu intelecto com suas teorias velhas!
(...)
para fugir da bela feiúra metropolitana, os olhares mais sensíveis se fecham em si mesmos. escondem sua revolta em subjetividade, no que há de mais profundo no ser. se culpam.
é a humanidade em estado de profunda depressão.
se entrega, se rende ao fim dela mesma, sem perceber que está doente.
quando nao se consegue ver possibilidade de mudança, ter esperança.
quando não se acredita em nada nem ninguém, nem em si mesmo.
quando parece que nada pode te salvar de praticar uma loucura.
é a doença do pós-modernismo.
quando só o melhor amigo, seu anjo, pode te lembrar que a vida ainda é possível.
amigo que ansiosamente te aguarda para te apresentar a feliz-cidade.
guarda para ti a felicidade. o moderno te aguarda - a vanguarda.
para a vida, um presente futurista:
Sim, se você trocasse a boêmia pela classe; A classe agiria em você, e Ihe daria um norte. E a classe por acaso mata a sede com xarope? Ela sabe beber - nada tem de abstêmia. Talvez, se houvesse tinta no "Inglaterra"; você não cortaria os pulsos. Os plagiários felizes pedem: bis! Já todo um pelotão em auto-execução. Para que aumentar o rol de suicidas? Antes aumentar a produção de tinta! Agora para sempre tua boca está cerrada. Difícil e inútil excogitar enigmas. O povo, o inventa-línguas, perdeu o canoro contramestre de noitadas. E levam versos velhos ao velório, sucata de extintas exéquias. Rimas gastas empalam os despojos, - é assim que se honra um poeta? -Não te ergueram ainda um monumento - onde o som do bronze ou o grave granito? - E já vão empilhando no jazigo dedicatórias e ex-votos: excremento. Teu nome escorrido no muco, teus versos, Sóbinov os babuja, voz quérula sob bétulas murchas - "Nem palavra, amigo, nem so-o-luço". Ah, que eu saberia dar um fim a esse Leonid Loengrim! Saltaria - escândalo estridente: - Chega de tremores de voz! Assobios nos ouvidos dessa gente, ao diabo com suas mães e avós! Para que toda essa corja explodisse inflando os escuros redingotes, e Kógan atropelado fugisse, espetando os transeuntes nos bigodes. Por enquanto há escória de sobra. 0 tempo é escasso - mãos à obra. Primeiro é preciso transformar a vida, para cantá-la - em seguida. Os tempos estão duros para o artista: Mas, dizei-me, anêmicos e anões, os grandes, onde, em que ocasião, escolheram uma estrada batida? General da força humana - Verbo - marche! Que o tempo cuspa balas para trás, e o vento no passado só desfaça um maço de cabelos. Para o júbilo o planeta está imaturo. É preciso arrancar alegria ao futuro. Nesta vida morrer não é difícil. O difícil é a vida e seu ofício.*
*trecho do poema "A Sierguéi Iessiênin", de Vladimir Maiakóvski.

Um comentário:

  1. escravos de uma nação
    uma nação zumbi
    se é cinza, quero ser cinza choque!
    não quero mais fugir
    pagar pau pra loki
    minha barriga não tem mais fome
    agora é o coração
    que bate no comando dos punhos
    um escreve com direção
    outro exprime putrefação
    meu sangue derramado
    bebe, mata tua sede
    enquanto o corpo sede
    enquanto ainda tenho voz

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