13.11.09

musa art(e)ficial

do quadro jogado na rua, uma obra viva assalta minha atenção. sem perceber, me encontro observando cada detalhe da sua performance. ela não parece uma atração típica daquela praça abandonada, mas intervém na [ausência de] vida que existe ali. por algum motivo, se comunica comigo e eu quero compreendê-la.

me debato em milhares de explicações prováveis para entender uma nudez solitária, tão delicada, em contraste com o asfalto - duro e sujo demais pra dividir o mesmo ar que a simplicidade da sua beleza.

pelas ruas, a confusão de artistas entreat(r)os aguça meus sentidos. quase mágico, o ambiente confunde meu raciocínio, inibe qualquer razão. mas a concentração dos seus gestos é o que me hipnotiza e me convida ao mergulho num olhar monalístico. busco algum sentido pra essa cena. então, amplio meus olhos-lentes, tentando alcançar cada marca da sua pele e, mais perto da sua alma, percebo um ritual catártico: ela se liberta dos signos impuros cravados no corpo.

aos poucos, a musa sai da moldura artificial e invade o espaço da realidade. em volta, sinto o incômodo dos admiradores, céticos à tamanha sensibilidade. ela não reage à nossa curiosidade quase invasora. ao contrário, continua limpando os restos de tinta ainda grudados nos seus braços - já vivos - pra sair da estética.

da forma estática, o movimento.

da pintura virtual, a mulher-arte ganha vida!

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