7.9.09

doses de inconseqüência

Os dois voltaram no tempo como se nenhuma lágrima tivesse passado por ali. Naquelas horas, a angústia e a saudade deram espaço a uma ilusão, que se revelava na felicidade dos lábios dela. A voz, as palavras e o sorriso se dirigiam somente a ele. Cada gesto estava voltado à atenção - tão rara - que seu amado lhe oferecia. Ele acompanhava cada movimento, registrava os detalhes e já nem hesitava em tocá-la.

Os anseios se convertiam progressivamente em doses de inconseqüência (in)consciente. Os desejos mais absurdos - de quem conhece o prazer do outro - se escondiam numa conversa quase normal. Eles sugavam instintos, mas assopravam teorias, livros, músicas e nada mais além disso. A razão se perdia na fumaça e na embriaguez. E uma sutil sedução se espalhava entre palavras jogadas pelos dois lados.

O calor do amor antigo empolgava os estímulos a irem além, mas a noite foi terminando. Mal houve uma despedida. Os olhos dela, ainda lembrando dos dele, se entregaram em lágrimas na volta à realidade. Parecia o fim (mais um), quando, num susto, um insistente elogio confundiu ainda mais aquela ocasião atípica:
- Você estava linda.
- Obrigada.
- Estava linda. Precisava falar.

E o verdadeiro fim dessa noite ficou pra outra madrugada. Pra doses mais inconsequentes.
– como em velhos tempos.

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