29.9.09
conhecidos sem rosto
Outros não se soltam muito, aí fica difícil de tentar desvendar a aparência. O Gustavo, um jornalista que me escreve pelo menos uma vez por dia pedindo pra marcar entrevistas, é um desses. Deve fazer já uns dois meses que a gente "se fala", mas nossa conversa é tão travada e formal. Antinatural. Enfim, também fico imaginando como são os traços dele. Ele deve ser bonito.
De algumas pessoas eu já tenho uma ideia tão bem formada que dá até medo de encontrá-las e me decepcionar. Outro dia mesmo descobri que a Andreza (super gente boa) anda de moto! Pensei "Como assim anda de moto? Ela não tem 'cara' de quem anda de moto!". [rs]
Acho que a entonação, as palavras que cada um usa, o ritmo da linguagem, sotaque...até o próprio nome! carregam muito da personalidade e, a partir disso, a projeção da sua (suposta) forma física acontece naturalmente. [ou seria só meu excesso de curiosidade levando a imaginação pra longe demais?] De qualquer forma, nunca vou encontrar esses personagens do meu dia-a-dia, porque tem telefone e internet pra resolver o que precisamos. A distância "encurtada" pelos telefonemas e e-mails diários nos afasta. Só conheço vozes.
26.9.09
balanço da rede
até o fim do dia
sentir o perfume EueVocê.
Torcer o tecido
Formar uma trança sem fim
do seu cheiro.
[enquanto espero seu beijo]
Desejo o próximo encontro
pra me embalar nos seus braços,
desatar minhas vontades
trançadas ansiosamente nos dias sem graça.
um vento que te empurra pra longe
e outro que te traz pra perto
Idas e vindas desconcertantes
balanço gostoso...
24.9.09
vôo vespertino
20.9.09
amor zumbi
Só por sua causa, só por você, só por você
E quando estou contigo eu quero gostar
E quando estou um pouco mais junto eu quero te amar
E aí te deixar de lado como a flor que eu tinha na mão
E a que esqueci na calçada só por esquecer
Apenas porque você não sabe voltar pra mim"
Minha dança acompanha a coreografia das suas mãos em mim enquanto o calor da sua boca na minha nuca atravessa todo o corpo como lavas sanguíneas. Explodem nos pés como foguetes disparados para além do universo.
Ao som de alfaias danço feito um caranguejo-zumbi. Um cadáver que se alimenta dos seus restos, te devora como se fosse a última gotícula de sangue que resta ao mundo.
.vou ficar de andada até te achar.
17.9.09
fumaça
o suor evapora
entre
s
i
a
c i
h r
a t
m s
i u
n d
é n
s i
enquanto a carne
se con-some em
linhas (im)produtivas.A criatividade se esvai
em novos-velhos produtos
descartáveis.A vida
- quase morta -
desaparece em
movimentos
iguais iguais iguais.A sujeira dos patrões
d i s s o l v e
em nuvens pretas que
poluem o ar das fábricas
e contaminam nossos pulmões.["esse ar deixou minha vista cansada, nada demais..."]
12.9.09
11.9.09
Que Fazer?
mas não vale se assustar por tão pouco! essa é só mais uma parte sem sentido do seu dia. a cidade toda já não é possível aos seus olhos. seu trabalho é mero meio de sobrevivência. sua casa, seus velhos amigos. tudo parece incomodar de alguma forma, que talvez você ainda não consiga entender. suas reações ao que acontece em volta mudaram [percebeu?]. e não há maneira alguma de voltar atrás.
já não se pode adiar a mudança. sua própria vida não será mais possível por muito tempo nessa angústia, porque as contradições perturbam cada decisão sua. a solidão em meio à multidão de bonequinhos te incomoda. a apatia geral te sufoca como se o mundo inteiro estivesse estrangulando seu pescoço, tentando conter seu grito que já não cabe mais na garganta.
pense no Que Fazer?.
9.9.09
lutanita
Tempestade de teorias,
Livros e ideologias
formam mentes enlouquecidas.Às vistas, se veste.
Seleciona um falso equilíbrio,
a fala fortalece
[e esconde
o sofrimento íntimo
do conflito entre sonhos e fatos,
de viver sem espaço,
enxergar múltiplos fracassos]Eis que pegadas firmes se destacam!
E-levam seus passos à esperança.Para uma nova Direção:
à luta, Anita!
7.9.09
doses de inconseqüência
Os anseios se convertiam progressivamente em doses de inconseqüência (in)consciente. Os desejos mais absurdos - de quem conhece o prazer do outro - se escondiam numa conversa quase normal. Eles sugavam instintos, mas assopravam teorias, livros, músicas e nada mais além disso. A razão se perdia na fumaça e na embriaguez. E uma sutil sedução se espalhava entre palavras jogadas pelos dois lados.
O calor do amor antigo empolgava os estímulos a irem além, mas a noite foi terminando. Mal houve uma despedida. Os olhos dela, ainda lembrando dos dele, se entregaram em lágrimas na volta à realidade. Parecia o fim (mais um), quando, num susto, um insistente elogio confundiu ainda mais aquela ocasião atípica:
- Você estava linda.
- Obrigada.
- Estava linda. Precisava falar.
E o verdadeiro fim dessa noite ficou pra outra madrugada. Pra doses mais inconsequentes.
– como em velhos tempos.
6.9.09
a primeira vez
Já provei tanta coisa, mas poucas são marcantes. O embaraço do 1° beijo. O frio na barriga do 1° olhar pro meu 1° amor. A liberdade da 1ª viagem sem meus pais. Ah, claro, o prazer inédito de quando eu perdi o que ainda restava da minha ingenuidade - a verdadeira "primeira vez". E o 1° orgasmo (claro que não coincidiu com a experiência citada anteriormente). As experiências vão se tornando mais "adultas", mas - no meu caso - talvez mais inconsequentes, como o 1° porre, a minha 1ª infração à lei (pra não fazer nenhum tipo de apologia rs) e por aí vai... porque não quero me expor tanto já na 1ª vez, né?! Tem também a 1ª perda, os 1° erros, a descoberta dos podres da realidade.
Mas, quanto mais você vai experimentando, mais quer experimentar. Conhecer outros mundos, prazeres e outras sensações é uma delícia. Ir além do que é permitido ou do que é socialmente aceito amplia sua visão, você percebe o quão cego estava até ali. Enxergar pelos diversos olhos que possam existir é meu objetivo: soltar amarras, ultrapassar bloqueios e derrubar imposições.
Por isso, no final das contas sempre (ou quase sempre) prefiro provar o gostinho da novidade, mesmo que depois eu caia fora e...procure outra novidade! Preciso escapar de alguma forma da rotina sem graça (e sem sentido) entre trabalho, sala de aula e tanta gente chata. Meus refúgios acabam sendo mais de mim do que o que faço na maior parte do tempo: meras obrigações e conveniências da vida.