7.5.12

prisão

parece que os pensamentos implodem.
explodem, mas não encontram saída.
o corpo prende tudo o que foi dia, na maioria das vezes, o que foram todos os dias, às vezes todos os dias da vida resolvem se encontrar numa madrugada sem sono, como quando acabei de ver um filme que já havia assistido na faculdade e a faculdade me lembrou as pessoas, das quais não tenho tantas coisas boas pra lembrar, mas tento buscar o equilíbrio e vou ao que me convém, então quando vejo estou pensando no que eu poderia ter feito se fosse quem sou hoje e é aí que começo a refletir sobre quem eu sou, e sinto vergonha, medo, arrependimento e o que é alegria parece sempre estar no passado, que, na verdade, teve pouco de bom também, e, assim como você, me pergunto por que tanta amargura e se não estou sendo injusta com minha própria vida, seja por achá-la muito pior do que ela é, seja por fazê-la realmente pior do que ela poderia ser. ligo a televisão pra despistar minha neurose e alguns clipes me distraem por algum tempo, até que as letras, mesmo as mais idiotas, se transformam em trilha sonora pras histórias que se encontram na minha cabeça, passo a encontrar sentidos em situações do meu convívio, e está aberta a porta para a música dar a interpretação que ela quiser para o que não tem nada a ver com ela e para o que tem. me perguntei se você fugia, se escapava dos meus dias não mais por falta da vigésima quinta hora, mas por vontade própria, e quis saber do futuro pra acalmar o presente, mas me dei conta de que poderia ter o efeito contrário, já que acontecimentos ruins também podem estar por vir, mas gostaria de fazer com que tudo daqui pra frente fosse mais leve, no que dependesse de mim, só que cada gota do céu que cai eu sinto como uma tempestade, que às vezes lava a alma e noutras me aproxima dos ratos e da sujeira, e por isso não dá pra eu decidir numa noite que vou viver numa boa, porque sei que estou muito aquém disso, nem sei se encontrei ainda alguma graça na vida, senão nem estaria dizendo isso agora, apesar de saber que daqui a dez minutos posso voltar atrás e querer apagar, mas, assim como todo o resto das coisas, gosto que fique claro o que é o momento, como cheguei ao que é posterior, ou seja, agora. pelo menos a dúvida me mantém viva, porque se houvesse a certeza, não teria por que ser. quando você perde, você aprende o valor e quando você quase perde ou vê de perto alguém perder, você aprende qualquer coisa também. eu acho que estou mais ou menos nessa condição em relação a estar viva, ao mesmo tempo que nada mudou, de fato. muito está pior, pouco está melhor, como sempre, como quase tudo o que vejo. e o que não vejo não existe, pra mim. o que não vejo? é grande minha agonia em não dominar o saber ou pelo menos dominar o que sei. as coisas fogem de controle, nem sempre estão tão claras, vão e voltam, circulam ao redor dos meus vinte e três anos e já. o tempo passa devagar e ao mesmo tempo rápido demais, e você vê que isso é possível quando o tédio transpassa manhã, tarde, noite e madrugada, chega o dia de novo e você ainda não dormiu. já é outro dia e não teve descanso nem nada útil realizado a não ser muito tempo perdido em viagens insanas e depressivas, e pior, repetidas, as mesmas de todos os outros dias, que se desviou pra um lado mais amor ontem, mais família hoje, mais trabalho ou mais qualquer coisa imaginável pra um ser humano. o passar das horas, o passar do frio, põe coberta, descobre, tira a calça, põe de novo pra ir até a cozinha, não encontra o que deseja comer, volta com fome, vai ao banheiro e encontra o espelho, que é o objeto mais assustador que já foi inventado. é a verdade. invertida, mas é a verdade. as olheiras só constatam o desespero pelo sono, que se afasta a cada novo raciocínio múltiplo. múltiplo porque a cada um deles se agrupam dez, vinte, cem novos outros, uma corrente a qual estou presa.

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