5.12.11

os olhos borrados no espelho

um incômodo a perseguia nos últimos dias,
setevintequatrohoras que afastavam o futuro
do seu passado. novos-velhos períodos entrelaçados,
impregnados de um cheiro forte, essência permanente,
que repudiava o olfato e os olhos da vida,
desviava os bons ventos da paz.
- estou inteira, mas as veias param quando o tempo
esfria. o verão só ameaça, e não chega. uma vida-inverno
que sobrevive, sem brisa e sem sol quente. estava ansiosa,
pensava no que lhe trouxera de volta o acaso provocado,
força latente, dor prevista sob as glândulas latejantes,
impulsos que agora produziam tristeza concreta. dor.
força ao contrário. travestida de paixão viva. questionava
certezas construídas, e o que fizera dos últimos meses sendo
feliz, e o que adorava ser e não ser. ela queria não ter
razões opostas, os conflitos não conseguiram mudar
qualquer coisa de lugar entre os dois. cansaço e preguiça
de sentir ódio. lançava-se mais uma vez às profundezas
de um quebra-cabeça colorido, lúdico, confuso.
mal voltara àquele pequeno in cômodo e não via mais
a porta pela qual um dia saíra, e agora retornava, fechada,
apagadas as luzes ao dar de costas, encontrara apenas
um feixe refletido em meio à escuridão do banheiro
escondido, deparou-se com uma perfuração sinistra
- uma gota de sangue endurecido algumas bocas abaixo
da orelha. e as olheiras feitas de uma madrugada,
bem-arrumada - e derramada. era a perda de água e de sangue
e de amor sugados, roubados enquanto dormia. já era dia
quando ela percebeu o vento passado que levara
o pouco que havia.

é como a pluma
que o vento vai levando pelo ar
voa tão leve
mas tem a vida breve
precisa que haja vento sem parar

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