tenho algo a dizer que está mudo,
algo a fazer, mas que está preso.
por isso, sinto
que nada em mim
vive
- o movimento que dá sentido
aos meus sentidos não tem estímulo.
escrevo para dar o tranco
empurrando meia dúzia de versos,
e em verso chego a pensar
que ainda vivo.
mas os dias são pequenos
demais para a poesia
- não nos resta tempo
nem saúde.
e, além do mais, nestas linhas
privadas, ainda não digo
nem faço
História
- ainda não alcanço
o que me cala, ainda
não me liberto.
27.11.14
19.5.14
empregados-desempregados
DESEMPREGADO
DESÉMPREGADO
DESEMPREGADO
DESEMPREGADO
DESEMPREGADO
DESEMPREGADO
DESEMPREGADO
DESEMPREGADO.
DESEMPREGADO
DESEMPREGADO,
DESEMPREGADO,
DESEMPREGADO
DESEMPREGADO
DESEMPREGADO
DESEMPREGADO.
DESEMPREGADO
DESEMPREGADO,
D *CEMPREGADO
DESEMPREGADO.
*C de Capital. o intruso C: ausente literalmente, mas (e por que não?) presente conceitualmente em DESEMPREGADO.
13.5.14
vermelho
sangue
dos vivos
lutadores,
sangue
daqueles
que partiram,
rubros
sonhos
nos guiam -
meu partido!
corrente
o gosto
de ferro,
a cor
em ritmo
pulsante -
meu coração!
convoca
tambores,
entoa
cíclicos
baques,
pressiona
oxigênio
fluído,
líquido
por onde
pressinto,
caminho
preciso.
células
em plena
razão -
meu sistema!
da medula,
combatente
alimento,
o movimento
do corpo
que pensa -
a resistência!
resistência,
consciência,
resistência...
dos vivos
lutadores,
sangue
daqueles
que partiram,
rubros
sonhos
nos guiam -
meu partido!
corrente
o gosto
de ferro,
a cor
em ritmo
pulsante -
meu coração!
convoca
tambores,
entoa
cíclicos
baques,
pressiona
oxigênio
fluído,
líquido
por onde
pressinto,
caminho
preciso.
células
em plena
razão -
meu sistema!
da medula,
combatente
alimento,
o movimento
do corpo
que pensa -
a resistência!
resistência,
consciência,
resistência...
17.4.14
dias de saudade
dos passos
daquele
passado,
presente
em laços
feito
a-braços,
beijo
o instante.
previsto
e perseguido
o tempo
de hoje,
amanhece
por dentro
o amargo
de ontem:
falta.
por isso,
falto
comigo
e contigo.
daquele
passado,
presente
em laços
feito
a-braços,
beijo
o instante.
previsto
e perseguido
o tempo
de hoje,
amanhece
por dentro
o amargo
de ontem:
falta.
por isso,
falto
comigo
e contigo.
14.4.14
o corpo da maré
morreu mais um jovem
Jeferson Rodrigues da Silva
pacificado
por um disparo
morreu
e não precisou porquês
porque tragédia
de favelado
ou de operário
não importa
pra Copa
pro Pelé, pro Cabral
pro telejornal, pro burguês
pra Fifa, pra Dilma
pra sobrevida do capital:
morre porque mora
lá no morro,
no alto
da repressão
morre porque corre
contra a corrente
- o caminho da morte
morre porque apenas
todos os dias
- até o dia
de sua morte
sai ao trabalho
e volta
a morrer porque quer
seguir
conseguindo viver
e também morre
porque vê
a morte do outro
ombro que falta
na marcha
morre, mas se levanta
em corpo insurgente,
que mata!
Jeferson Rodrigues da Silva
pacificado
por um disparo
morreu
e não precisou porquês
porque tragédia
de favelado
ou de operário
não importa
pra Copa
pro Pelé, pro Cabral
pro telejornal, pro burguês
pra Fifa, pra Dilma
pra sobrevida do capital:
morre porque mora
lá no morro,
no alto
da repressão
morre porque corre
contra a corrente
- o caminho da morte
morre porque apenas
todos os dias
- até o dia
de sua morte
sai ao trabalho
e volta
a morrer porque quer
seguir
conseguindo viver
e também morre
porque vê
a morte do outro
ombro que falta
na marcha
morre, mas se levanta
em corpo insurgente,
que mata!
24.1.14
a explosão
ontem ouvimos uma explosão.
podia ser um tiro, uma bomba, uma obra,
alguém que morre, alguém que trabalha.
não muito longe daqui, onde o povo não dorme,
a coragem é um instinto profundo de sobrevivência
e incendeia décadas de derrotas e miséria.
os presídios, as cidades, a vida de gado
- as notícias me dão calafrios e afogam meus olhos
de raiva.
podia ser um tiro, uma bomba, uma obra,
alguém que morre, alguém que trabalha.
não muito longe daqui, onde o povo não dorme,
a coragem é um instinto profundo de sobrevivência
e incendeia décadas de derrotas e miséria.
os presídios, as cidades, a vida de gado
- as notícias me dão calafrios e afogam meus olhos
de raiva.
5.1.14
a natureza do momento oportuno
da pura beleza, voltei abastecida
pra manutenção da poesia,
que, apesar de tamanha destruição
(essa da produção capitalista),
por tanto lugar, ainda reina!
como é vivo o rio,
viva a mata atlântica
e vivo o mar!
as cachoeiras,
até as pedras...
como ganham vida
na boca de uma caverna!
há tanto o que desfrutar,
descobrir e fazer na História,
se olhar pro mundo inteiro,
com as ciências da Geografia,
Biologia, Física, Filosofia...
não resisto em pensar
numa natureza ofensiva:
que os oceanos, neste verão,
banhem-nos de sua força infinita
para que, gigantes e absolutos,
tomemos as ruas.
e que os rios também sejamos,
para a coragem de atravessar
rochas, vales, montanhas...
para abrir caminho e avançar.
cada partícula da liberdade,
da terra e do que nos alimenta,
tudo o que nos pertence
- o futuro,
este novo ano,
pode ser nosso.
dois mil e catorze expropriemos!
pra manutenção da poesia,
que, apesar de tamanha destruição
(essa da produção capitalista),
por tanto lugar, ainda reina!
como é vivo o rio,
viva a mata atlântica
e vivo o mar!
as cachoeiras,
até as pedras...
como ganham vida
na boca de uma caverna!
há tanto o que desfrutar,
descobrir e fazer na História,
se olhar pro mundo inteiro,
com as ciências da Geografia,
Biologia, Física, Filosofia...
não resisto em pensar
numa natureza ofensiva:
que os oceanos, neste verão,
banhem-nos de sua força infinita
para que, gigantes e absolutos,
tomemos as ruas.
e que os rios também sejamos,
para a coragem de atravessar
rochas, vales, montanhas...
para abrir caminho e avançar.
cada partícula da liberdade,
da terra e do que nos alimenta,
tudo o que nos pertence
- o futuro,
este novo ano,
pode ser nosso.
dois mil e catorze expropriemos!
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