18.10.11

sem destinatários

Eu agora peguei essa mania idiota de escrever como se tudo fosse uma carta pra um destinatário fantasma. A página do Word não funciona mais, não entendo. O bloco de notas nem pras minhas poesias mais sem vergonha serve. Blogspot tem sido um fiasco, com mil rascunhos descartados. Voltei à escrever à mão. Inspirou meia dúzia de textos péssimos. Eram muito de mim, além do que fosse interessante mostrar. Mas, troquei de bolsa e o bloquinho de notas ficou esquecido, então comecei a me desesperar quando vi que meus pensamentos estavam indo pra lugar nenhum. Transcrever-me é uma maneira de manter alguma lucidez. Ou só mesmo uma maneira sem graça de existir no mundo. Sem sucesso. Tenho me esforçado também pra tentar existir de fato, existir nas pessoas, nas coisas que eu faço. Sem sucesso. Tenho a sensação de que regredi dez anos. Eu me calo e fico num monólogo interno enquanto as pessoas trocam milhares de ideias diante de mim. Eu não consigo trocar nada com ninguém. Tranquei as portas e, em mais um dos meus impulsos escrotos, engoli a chave. Agora me ponho a digitar intimidades em corpo de email, para ninguém, sem cópia pra alguém, sem cópias ocultas, sem assunto, sem anexos. Cada dia piora e já sinto que não consigo nem me comunicar comigo mesma. Os textos só acontecem nessa tática falsa de amigo imaginário. E, a cada dia mais doído, o texto só sai se eu romper as barragens da água salgada do que eu ainda insisto em chamar de alma. Na verdade, estou um amontoado de dias e noites sem graça e sem sentido. Estou só pra mim e quase mais nem isso. Estou inteira em pontos que se abrem - e sangram - todos os dias. Não me refiz, não me refaço.

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