10.6.11

chuva artificial

de repente as águas se misturaram.

apenas sentia a chuva aquecendo meus arrepios. a queda d'água enfraquecida, como as minhas vontades. irritantemente fracas. as gotas - elas não alcançam as horas do meu cansaço. mas eu forço, aumento a temperatura. e faço derreter minha tensão no vapor dessa catarse diária.
a eletricidade que bombeia minha purificação é o que silencia meu desespero. ali, ninguém me ouve. o rosto molhado ilude a sensibilidade. não dá pra ver, saber, se há água demais ou de menos nos meus olhos. mas enquanto as tiver em mim, o registro não gira. enquanto sentir frio. enquanto estiver confortável pra todo o meu corpo, sentado ou encostado ali. enquanto disso eu precisar.
a tristeza parece mais suave entre toda essa espuma. a culpa parece mais limpa.

desligo o chuveiro e despejo em mim as ervas em banho. instante sem fôlego, choque térmico, a finalização de um descarrego.
olho pro ralo procurando algum sinal da minha angústia.

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